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Valdenice Guimarães

Sobre o autor

Valdenice Guimarães: É Psicóloga Comportamental, Historiadora, Escritora, Palestrante, Psicóloga especialista em Terapia de Casal. Pós-graduada em Teorias e Técnicas Comportamentais: Educação, Pesquisa e Terapia. CRP/153816
Postada em 18/06/2018 10:11 | Atualizada em 18/06/2018 10:34

Será amor ou será paixão?

 Há uma necessidade de vinculação entre os animais. Essa vinculação é importante, especialmente no cuidado com as crias. Observamos esse comportamento em mamíferos de modo geral.

Na espécie humana, essa vinculação entre macho e fêmea, tem um alto investimento parental com os filhos e que inicia no período da paquera. Esse comportamento de paquera, é resultado da evolução do ritual de cortejamento muito complexo.

A fase do namoro auxilia os seres humanos a selecionarem melhor seus parceiros, já que é o momento de um conhecer o outro. Seduzir e conquistar, são habilidades essenciais nesse processo.

Sendo assim, o que é paquerar?

Paquerar é uma etapa inicial de um relacionamento que, biologicamente falando, tem como objetivo o acasalamento - o ato sexual em si.

Nesta etapa de paquera, as pessoas avaliam melhor os parceiros e testam em diferentes situações os mesmos. Esse ritual de paquerar, de conhecer e conquistar o parceiro, tende a propiciar condições efetivas para que o casal permaneça um período maior junto para cuidar dos filhos.

O flerte e o namoro, têm a função de favorecer a escolha do parceiro e fazem parte do comportamento sexual.

A seleção sexual é a busca por parceiros, tidos como ideais, para atingir sucesso no acasalamento. O investimento dos homens e das mulheres na prole são diferentes.

Nos machos, a seleção sexual é feita através da competição para ter acesso à fêmea com um maior número de características de saúde e fertilidade. O macho, busca essas características que serão passadas para os filhos, por haver uma probabilidade dos filhos nascerem saudáveis.

Já as fêmeas, são muito mais criteriosas ao escolher o macho para acasalar. As mulheres geram o filho por nove meses, amamentam e cuidam do filho por longos períodos. Portanto, levando em conta os critérios do processo reprodutivo, a mulher torna-se mais valiosa, pois os custos com os cuidados com o filho são maiores.

As mulheres, comumente, escolhem os machos mais fortes e que demonstram ter mais recursos necessários à sobrevivência.
Portanto, o poder de escolha é das mulheres.

Geralmente, homens e mulheres não têm consciência da ocorrência desse processo.

E o amor e a paixão, onde entram nesse processo? O que difere o amor da paixão?

Do ponto de vista neurológico, há alguns neurotransmissores envolvidos no amor e na paixão.

Na paixão, há uma explosão na produção da dopamina; e no amor, ocorre uma produção de oxitocina e vasopressina.

A paixão ocorre com mais intensidade em algumas pessoas, em outras se dá de modo mais moderado.

Quando o indivíduo está apaixonado, é liberada com maior intensidade pelo organismo a dopamina que é um hormônio responsável pelo prazer. A dopamina, também gera no sujeito uma expectativa de que as coisas vão dar certo. Sendo assim, por mais que a relação amorosa esteja conflituosa, os envolvidos têm a sensação, muitas vezes a certeza, que tudo vai melhorar, que tudo vai ficar bem.

O prazer da paixão ativa, principalmente o Sistema Límbico, área responsável pelas emoções, comportamento sexual e funções reprodutivas. Os aspectos reprodutivos são importantes para a sobrevivência e perpetuação da espécie.

A dopamina, produz um efeito de euforia e de prazer imediato.
Por conta desse efeito, as pessoas apaixonadas emitem um comportamento de impulsividade e de irracionalidade. Elas são capazes de fazer loucuras pela pessoa que está apaixonada, indo à extremos como deixar emprego, romper com a família e afastar-se das relações de amizade. Elas passam a viver exclusivamente para o outro, pensam apenas em aproveitar as emoções do momento presente, sem nenhum planejamento futuro. Os relacionamentos pautados na paixão, geralmente têm um período curto, entre dois a três anos no máximo.

Com o amor, entram em cena os hormônios chamados de oxitocina na mulher, e vasopressina no homem.

A oxitocina é liberada, principalmente quando a mulher está amamentando o filhote e também na relação com o homem que ama, possibilitando uma exclusividade nessa relação.

No homem, o hormônio que vai fazer com que ele se vincule de maneira mais exclusiva a uma mulher é a vasopressina.

O efeito da oxitocina e da vasopressina, reconhecidos como hormônios do amor, dão uma sensação de serenidade.

Na paixão, ocorre um efeito de excitação, e no amor uma sensação de calmaria.

Nando Cordel - cantor e compositor, retrata o fogo intenso da paixão e a tranquilidade do amor nas seguintes canções.

Na música “Gostoso demais”, o amor é retratado assim:

É tão difícil ficar sem você.
O teu amor é gostoso demais.
Teu cheiro me dá prazer.
Quando estou com você, estou nos braços da paz.
Na música “Doido pra te amar”, ele exalta assim a paixão.
Eu nem pensei, já estava te amando
Meu corpo derretia de paixão
Queria estar contigo todo instante
Te abraçando, te beijando
Te afogando de emoção

Diferentemente da paixão, o amor requer um planejamento maior, é um processo de construção de vida, envolvendo um direcionamento para ter filhos.

O amor se desenvolveu na espécie humana, com o objetivo dos pais cuidarem e protegerem os filhos.

No início da relação amorosa, a dopamina está presente. Esse elemento dopaminérgico, após dois a três anos cessa. A partir desse momento, se o casal continuar vinculado, gostando um do outro, já não é mais paixão, é amor.

A paixão vai se transformando em amor, um sentimento mais profundo, que evoca responsabilidade e cuidado um com o outro.

Mais que isso, a presença do amor, demonstra que o casal utiliza de estratégias de reforçamento, o que possibilita a secreção e a liberação da oxitocina e da vasopressina e têm como consequência que o casal permaneça junto por um período longo.

Quase sempre, as pessoas gostam de seduzir, de conquistar e de se apaixonar, pois o prazer é intenso e imediato, porém a tendência é que a relação seja breve.

O amor requer trabalho e esforço, além de um planejamento de vida, uma perspectiva de futuro. Desse modo, a relação é mais duradoura.

Compreendemos que o amor por si só não se mantém, o amor é um processo de construção.

Na manutenção do amor, é imprescindível a presença de contingências especiais de reforçamento entre o casal. Os ajustes são necessários para um relacionamento sólido e harmonioso.

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