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Saúde
Postada em 23/10/2016 08:12 | Por Todo Segundo

“É uma vencedora quem passa por um câncer e recebe a cura”

Microempresária divide sua experiência sobre como foi receber a notícia de que tinha câncer de mama
“É uma vencedora quem passa por um câncer e recebe a cura” - Foto: Carla Cleto
Por Marcel Vital

Ao contrário da maioria das mulheres, o aparecimento de um nódulo no seio que não desaparece, tampouco muda de aspecto quando apalpado não foi um sinal para Rúbia Lúcia Costa, 62 anos.

Ela sempre cuidou da saúde e da alimentação; porém, aos 38 anos, começou a sentir pontadas repentinas no seio direito, o que às vezes a impedia de dormir. Apreensiva, decidiu procurar um médico, que, após um exame de mamografia, cravou o diagnóstico: um carcinoma ductal invasivo (CDI), o tipo mais comum de câncer de mama.

Embora os médicos soubessem tratar com grande chance de sucesso quando diagnosticado a tempo, como era o caso; contudo, sem sombra de dúvida, era um câncer.

“Não acreditava no que estava acontecendo”, desabafou ela, que contou com todo o apoio da família e amigos. Numa conversa franca com seu médico, eles falaram sobre o tratamento inadiável, angustiante e desconfortável. Quanto mais rápido iniciassem o procedimento terapêutico, melhor seria.

Com o sorriso estampado no rosto e a cabeça erguida para enfrentar o novo desafio, ela recebeu as drogas da quimioterapia por meio de um cateter que já estava implantado no lado direito do tórax. Sentiu náuseas, ficou cansada e estressada. Os cabelos caíram. Sua pele e sua carne seriam queimadas nas sessões de radioterapia. Em poucos meses o tumor evoluiu a ponto de realizar uma mastectomia –retirada total da mama – no seio direito.

A vida é uma constante aprendizagem
Após nove meses de tratamento, Rúbia recebeu alta, como é de praxe. Em menos de um ano, percebeu uma irritação na garganta, acompanhada de muco, que a deixava seca e causava grande incômodo. O que ela não fazia ideia era que outra notícia viria nos exames de controle. O câncer havia se espalhado para o ovário, sobretudo para o pulmão e a região da clavícula. Era bom saber enfim o que tinha, mas não era muito bom saber a solução: não, não era possível tratar sem cirurgia.

Segundo Rúbia Costa, não era necessário realizar uma histerectomia radical (retirada do útero, do colo do útero, da região superior da vagina e de parte dos tecidos ao redor desses órgãos, sendo mais utilizado em casos de câncer em estágio avançado), apenas a extração dos ovários, para que os hormônios sexuais produzidos por esses órgãos não servissem de alimento para as células cancerígenas. Por essa razão, ela entrou em uma menopausa brusca, apresentando sintomas, entre eles a perda da libido.

“No entanto, optei, também, pela retirada do útero e das trompas adjacentes, pois já estava com 39 anos e não pretendia engravidar. Eu estava divorciada e ainda não tinha filhos. Foi uma decisão muito acertada”, garantiu. Além do processo cirúrgico, ela foi submetida a sessões intensas de quimioterapia e radioterapia.

Transformando dor em esperança
Foi nos sabores e cheiros dos quitutes que prepara para vender em sua lanchonete e no trabalho voluntariado que ela realiza, semanalmente, na Rede Feminina de Combate ao Câncer de Mama na Santa Casa de Maceió, que a mulher de sorriso largo e cheio encontrou o sentimento de entrega e amor incondicional para superar os desafios impostos pela vida.

“É uma vencedora quem passa por um câncer e recebe a cura, pois o tratamento é árduo, a resignação é divina e a fé, primordial. Embora o tumor diga a respeito a questões e a experiências individuais, foi por meio do relacionamento interpessoal que eu consegui expressar e reorganizar meus sentimentos e emoções. Observei que, junto a meus familiares e amigos, pude fazer adaptações em minha vida e manter o bem-estar comigo mesma”, contou.

Para ela, quando o paciente está internado, o mais importante é a habilidade do profissional de saúde em saber cuidar da pessoa, não somente da doença. Os principais sintomas que afetaram sua imagem corporal durante o tratamento foram à perda do cabelo, dores, náuseas, vômitos, diarreia, fadiga e a atrofia muscular.

“A perda do cabelo foi o efeito colateral mais devastador ao longo do tratamento, pois era causada pelas drogas que eram injetadas em mim. A ausência dele afetou um pouco minha autoimagem e prejudicou as relações sociais. À época, sofri muito preconceito nas ruas; por onde eu passava as pessoas costumavam me apelidar de ‘carequinha’”, rememora, com os olhos brilhando de quem se move com garra na vida.

“Doía-me ouvir tudo aquilo. Ainda que soe duro, só nós, e apenas nós, temos a capacidade de vencer as adversidades. A nossa força, seja ela a vital, a emocional, a interior e a de vontade, é mais uma maneira de lidar com os desafios da vida, do que sermos impenetráveis aos sentimentos desagradáveis. É muito mais uma ideia construída de que podemos orientar o nosso pensamento e a nós mesmos, a uma atitude de enfrentamento e de motivação para a superação. Somos os únicos responsáveis pela felicidade de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico.”

Hoje, Rúbia percebe que mudou em muitos aspectos. “Adquiri coragem e esperança. Entendi que as coisas não são, muitas vezes, como queremos”, reflete.

O pensamento positivo e o espírito leve foram essenciais para não sucumbir à doença e chegar até a etapa final do tratamento. “Vou aqui, vou ali, tentando buscar novos caminhos. Procuro passear, conversar. Por isso estou aqui. Agradeço a Deus, todos os dias, por todas as bênçãos que eu tenho recebido em minha vida, e estar curada da doença há 26 anos, é uma delas”, reconhece, em tom de agradecimento.

Agência Alagoas
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