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Alagoas
Postada em 14/08/2024 16:59 | Atualizada em 14/08/2024 17:01 | Por Aarão José / Ascom Polícia Científica

Polícia Científica alerta para os perigos da compra e venda irregular de chumbinho

Substância paralisa o sistema nervoso e causa a morte rápida de animais e seres humanos quando usado de forma errada
Frascos com agrotóxico apreendidos foram analisados no Laboratório Forense do IC de Maceió - Foto: Ascom

O aumento de casos de envenenamento em humanos e animais em Alagoas acendeu um sinal de alerta das forças de segurança do Estado. Os exames, realizados no Laboratório Forense do Instituto de Criminalística de Maceió (ICM), comprovaram o uso inadequado e criminoso da substância agrotóxica terbufós na forma granulada.

Apesar de ter a comercialização proibida no Brasil para uso doméstico, o forte veneno, usado ilegalmente como raticida, pode ser encontrado facilmente em várias lojas e feiras em Alagoas. A Polícia Científica alerta: a venda e compra desse tipo de produto, popularmente conhecido como chumbinho, é crime, e deve ser denunciado para a Vigilância Sanitária ou para a delegacia mais próxima.

Caso de grande repercussão teve morte de criança

Um dos casos mais recentes ocorreu em maio deste ano, quando o menino Anthony Levy, de 4 anos, foi morto pelo próprio pai com uma dose de chumbinho misturado ao alimento da criança. O Laboratório Forense do ICM já havia concluído que Anthony fora envenenado com terbufós e na sequência das investigações, emitiu laudos dos exames realizados em vestígios apreendidos pela Polícia Civil.

O perito criminal Ken Ichi Namba, explicou que o primeiro vestígio analisado foi um pequeno frasco plástico incolor, sem conteúdo interno aparente, coletado por funcionária da creche, como se verifica em vídeo amplamente divulgado. O segundo vestígio foi um conjunto de pequenos frascos, semelhantes ao primeiro vestígio, contendo material granular de cor cinza escura, apreendido no comércio.

Apesar do grande desafio apresentado pelo primeiro vestígio que não apresentava conteúdo interno aparente, os peritos criminais altamente qualificados da área de Química Forense tiveram êxito em identificar resíduos de terbufós. O exame realizado no segundo vestígio também identificou a mesma substância, igual ao produto químico encontrado no conteúdo estomacal da vítima.

Perito explica o uso do raticida

O perito Ken Ichi Namba, que também é farmacêutico, esclareceu que esse tipo de substância tem o uso permitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para aplicação no solo como nematicida e inseticida sistêmico em lavouras de cana-de-açúcar, amendoim, feijão, entre outras. Da classe dos organofosforados ele age paralisando o sistema nervoso, causando a morte rápida das pragas e quando usado de forma errada pode matar também seres humanos e animais.

Por ser extremamente tóxico a quaisquer animais, o terbufós, é utilizado ilegalmente como rodenticida (raticida). Porém, o perito afirmou que ele não é um raticida eficaz, pois os roedores são animais muito inteligentes e, ao primeiro sinal de morte por um consumo de alimento, eles deixam de consumi-lo ou mudam a colônia para outro local. Mas como aparecem alguns ratos mortos logo após a aplicação das iscas com chumbinho, as pessoas têm a falsa impressão de que o agrotóxico é eficaz.

Isto alimenta o comércio clandestino deste pesticida que tem o uso proibido como rodenticida (raticida) ou qualquer outro uso doméstico. Alertando para os perigos do contato com o agrotóxico, o perito explicou que a intoxicação pode ocorrer por via oral (ingestão), dérmica (contato com a pele) e respiratória (inalação do pó).

“Os sintomas de intoxicação aparecem geralmente em até 1 hora após a ingestão e incluem náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, incontinência fecal e urinária, salivação excessiva, aumento da secreção pulmonar, corrimento nasal excessivo e presença de espuma na boca. A pessoa pode ter ainda sudorese, lacrimejamento excessivo, visão embaçada, contração da pupila, cefaleia, fala arrastada, confusão mental, tremores, convulsões, taquicardia, dificuldade respiratória, coma e morte por insuficiência respiratória”, afirmou Ken.

Produto vendido ilegalmente em Alagoas é desviado

Segundo a Polícia Científica, o chumbinho comercializado ilegalmente em Alagoas é criminosamente desviado de pesticidas destinados principalmente às lavouras de cana-de-açúcar. Devido à relativa facilidade de aquisição ilegal, o agrotóxico está envolvido em diversos casos de envenenamentos acidentais de crianças e animais domésticos, envenenamentos intencionais de animais, homicídios e suicídios em Alagoas.

“O chumbinho, por ser um produto clandestino e sem registro, não possui rótulo com orientações de manuseio e segurança, informações médicas, telefones de emergência e, o que é mais grave, não tem a descrição do agente ativo bem como antídotos em caso de envenenamento, o que é fundamental para orientação do profissional de saúde nesse momento”, alertou o perito criminal.

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