A política de Alagoas nunca foi simples, mas 2026 pode levar essa complexidade a outro patamar. Nos corredores de Brasília e nas conversas discretas em Maceió, começa a ganhar fôlego uma hipótese que, até pouco tempo atrás, soaria inverossímil: o ministro Renan Filho (MDB) na vice-presidência da chapa de Lula, e o prefeito de Maceió, JHC (PL), como candidato ao governo estadual — com apoio conjunto de Renan Calheiros e de Arthur Lira, que já é seu aliado.

A especulação envolve um arranjo que, se concretizado, redefiniria a lógica de disputas em Alagoas, rompendo com uma década de antagonismo entre os grupos políticos de Renan e Lira — e alçando JHC à condição de candidato de consenso entre os dois maiores caciques do estado.

Renan Filho: de Alagoas para o Planalto

Renan Filho já aparece, de forma recorrente, entre os nomes cotados para compor a chapa majoritária do presidente Lula em 2026. Ministro de Transportes e aliado estratégico do governo, tem respaldo do MDB nacional e influência direta sobre o Nordeste — um ativo cada vez mais valorizado no tabuleiro presidencial.

Caso assuma o posto de vice, o ex-governador deixaria vago o caminho da disputa estadual — e é aí que a figura de JHC entra no jogo.

JHC, o governador viável para todos?

Prefeito reeleito de Maceió, João Henrique Caldas tem hoje a maior aprovação popular entre os gestores alagoanos. Sem histórico de aliança com os Calheiros e rivalizado com o grupo de Arthur Lira, ele se tornou símbolo da chamada “nova política” em Alagoas.

Mas no atual momento, pragmatismo pode falar mais alto. Se Renan Filho deixar a disputa estadual, JHC surge como nome competitivo, com estrutura e recall. E, com o apoio dos dois principais grupos tradicionais do estado — MDB e PP, este último aliado de JHC —, se tornaria praticamente imbatível.

Renan e Lira no Senado?

Com duas vagas abertas ao Senado em 2026, Renan Calheiros (MDB) e Arthur Lira (PP), adversários ferrenhos nas últimas eleições, são nomes fortíssimos para ocupá-las. A disputa entre os dois seria natural, mas bastidores sugerem outra possibilidade: a de que ambos concorram em paz — como parte de um acordo mais amplo que inclua JHC no governo e Renan Filho na vice de Lula.

Uma aliança impensável, mas possível

O que está em curso, segundo fontes próximas aos grupos envolvidos, é uma tentativa de despolarizar o campo político alagoano e formar uma frente ampla de governabilidade. A união entre Renan, Lira e JHC — ainda que informal — atenderia interesses de sobrevivência política, manutenção de espaços em Brasília e contenção da extrema direita no estado.

Além disso, seria uma resposta à fragmentação das oposições locais, que ainda não apresentaram nomes com densidade suficiente para enfrentar essa tríplice força.

As pedras no caminho

Apesar da força da ideia, ainda existem resistências — principalmente dentro das bases tradicionais do MDB e do PP, onde a rivalidade entre Renan e Lira está longe de ser superada. Há também a dúvida sobre a disposição de JHC em abrir mão de sua identidade política independente para embarcar em uma aliança tão simbólica.

No entanto, se há uma regra na política alagoana é que os acordos, por mais improváveis que pareçam, tendem a acontecer quando interesses maiores estão em jogo.

Conclusão: uma hipótese que diz muito sobre o presente

Ainda que especulativa, a possibilidade de JHC ser candidato ao governo com apoio de Renan e Lira — e de Renan Filho estar na vice de Lula — revela um traço essencial da política alagoana: a capacidade de se reinventar conforme os ventos.

Se essa aliança se consolidar, o eleitorado verá, pela primeira vez, as três principais forças políticas do estado falando a mesma língua. E as demais lideranças terão de repensar seus caminhos — ou continuarão comendo muito cuscuz até chegar perto.