27/07/2025 11:15:29
Política
Lula tenta unir Lira e Renan, mas disputa pelo Senado reacende rivalidade
Presidente apostava em composição improvável entre os dois caciques, mas embate por duas vagas no Senado em 2026 expõe divisões históricas
ReproduçãoLula tenta unir Lira e Renan, mas disputa pelo Senado reacende rivalidade em Alagoas
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Desde o ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva alimentava uma ambição quase improvável no historicamente conflagrado universo político de Alagoas: unir, ao menos em sua órbita nacional, os dois maiores rivais da política local — Arthur Lira e Renan Calheiros.

A ideia, que até pouco tempo parecia inviável, começou a ganhar contornos de realidade com os movimentos recentes de bastidores. Lula via nessa aproximação uma oportunidade estratégica de neutralizar tensões regionais, ampliar sua base no Congresso e fortalecer o palanque do governo em um estado marcado por uma polarização persistente entre os grupos de Lira (PP) e Renan (MDB).

Mas, na prática, o xadrez alagoano tem se mostrado mais complexo do que o esperado. Enquanto Renan e o MDB local mantêm aliança sólida com o Palácio do Planalto — reforçada pela presença do ministro dos Transportes, Renan Filho, no núcleo duro do governo — Lira segue orbitando em torno do Planalto, porém com autonomia política e cobranças cada vez mais públicas.

Após deixar o comando da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2025, Arthur Lira passou a se movimentar para garantir protagonismo na próxima eleição. O ex-presidente da Casa ensaia uma reaproximação institucional com o governo, sem abrir mão de sua identidade política própria. Lula, por sua vez, aposta no pragmatismo e tenta manter os canais abertos com ambos, acreditando que os interesses eleitorais locais poderiam, eventualmente, ser administrados com equilíbrio.

No entanto, a eleição de 2026 coloca tudo isso em xeque. Renan Calheiros tentará conquistar seu quinto mandato consecutivo no Senado, reafirmando sua longevidade política. Do outro lado, Arthur Lira já anunciou que também disputará uma das duas vagas de Alagoas no Senado Federal — será sua primeira candidatura à Casa Alta, mirando justamente o posto que já pertenceu ao pai, Benedito de Lira, falecido no ano passado.

A eleição representa mais do que um confronto entre dois caciques. Ela simboliza o choque de dois modelos de poder em Alagoas e, ao mesmo tempo, um novo teste de influência para o próprio Lula, que terá de lidar com duas candidaturas importantes para sua governabilidade, mas que se enfrentam diretamente em seu palanque estadual.

Apesar de a legislação permitir que dois candidatos de grupos diferentes sejam eleitos, o histórico de embates entre os dois torna improvável qualquer aliança formal ou não agressiva. Lula, que ainda sonha com um palanque duplo, terá de conviver com uma disputa acirrada e inevitavelmente conflituosa.

Com duas cadeiras em disputa, o foco também recai sobre os possíveis postulantes à segunda vaga. Como o governador Paulo Dantas está em seu segundo mandato e já declarou publicamente que não será candidato a nada em 2026, o MDB deve buscar outro nome para compor a chapa com Renan — alguém que agregue força e dialogue com outras frentes políticas aliadas ao Planalto.

No campo de Lira, há especulações de que ele possa se aliar a um nome do PL, do União Brasil ou lançar uma candidatura "surpresa" com perfil técnico, empresarial ou evangélico — segmentos em que o ex-presidente da Câmara tem mantido interlocução.

Lula como fator de equilíbrio (ou tensão)

A disputa em Alagoas promete ecoar nacionalmente. Renan Calheiros é hoje um dos principais defensores do governo Lula no Senado, com influência direta sobre comissões, indicações e votações estratégicas. Já Arthur Lira, mesmo fora da presidência da Câmara, seguirá como líder de um bloco político poderoso, com alcance sobre parte da bancada do centrão e conexões com o setor produtivo e o agronegócio.

A vitória de ambos poderia representar uma composição pragmática, mas a derrota de qualquer um dos dois tende a gerar ruídos, tanto em Alagoas quanto em Brasília. Lula, ciente disso, evita gestos públicos que soem como favoritismo, mas o equilíbrio é frágil — e o resultado das urnas em Alagoas poderá afetar diretamente a articulação política do governo federal a partir de 2027.

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