O bispo alagoano Dom José Francisco Falcão, da Arquidiocese Militar do Brasil, emitiu uma nota oficial nesta quinta-feira (04), para esclarecer o conteúdo de sua fala em uma missa que celebrava o golpe militar de 1964, realizada no dia 31 de março, em Brasília.
De acordo com a revista Veja, na celebração, o bispo teria dito que “gostaria de dar veneno de rato para o imbecil que nos anos 70 compôs a canção que é proibido proibir”. A suposta fala do bispo repercutiu nas redes sociais após a revelação feita pela revista na última segunda-feira (1º/4).
De acordo com a publicação, o cantor e compositor Caetano Veloso, irá acionar a Justiça para que o bispo diga judicialmente quem é o "imbecil" a quem se referia, e qual seria a pessoa que ele gostaria de matar com o veneno. Caetano é o autor da canção de 1987.
Na nota oficial, Dom José Francisco Falcão diz que, em nenhum momento do transcurso da Missa fez-se alusão ao nome de qualquer cantor ou compositor, tampouco apareceu a palavra "imbecil".
Veja a nota na íntegra
Ao tomar conhecimento pela Imprensa de que o Sr. Caetano Veloso – acerca de uma homilia por mim proferida no dia 31 de março de 2019, no transcurso da celebração eucarística das 19h30, na Paróquia de São Miguel Arcanjo e Santo Expedito, em Brasília (DF) – pretenderia interpelar-me judicialmente, em nome da justiça e da verdade, antecipo-me ao eventual ato interpelatório para demonstrar os fatos ocorridos, dirigindo-me, antes de tudo, ao Sr. Caetano Veloso; depois, à Imprensa.
PARA CAETANO VELOSO
1) Prezado Caetano Veloso, a referida Missa foi celebrada em ação de graças pelas promoções dos oficiais generais do Exército Brasileiro. Tais promoções ocorrem na referida data desde a década de sessenta do século passado;
2) A Missa de ação de graças a Deus pelos oficiais generais promovidos é uma tradição em todas as capelanias e paróquias militares católicas, dentro e fora do Distrito Federal, desde o século passado;
3) Sendo dia de domingo numa Paróquia militar, é natural a presença de militares ou familiares de militares na celebração da Eucaristia;
4) Em nenhum momento da homilia fez-se alusão ao nome de qualquer cantor ou compositor, tampouco apareceu a palavra “imbecil”;
5) Na homilia, afirmei: “Na década de 70, alguém fez uma música ‘é proibido proibir’…”. Referi-me ao refrão cunhado no final da década de 50 e transformado em música nos anos que se seguiram ao “espírito de maio de 1968”, em Paris, e que se espalhou em seguida pelo mundo, notadamente na década de 70;
6) A referida homilia comentou exclusivamente as leituras litúrgicas, ao se falar da atitude do filho pródigo de abandonar a casa do Pai, em busca de uma liberdade sem proibição, aludiu-se ao correto significado de “liberdade”, que comporta um conjunto de restrições, portanto de proibições; de fato, dos dez mandamentos da Lei de Deus, seis são proibições (Não matar, Não pecar contra a castidade, Não roubar, Não mentir, Não cobiçar a mulher [homem] do próximo, Não cobiçar as coisas alheias). Daí que, na visão cristã, não se pode falar de “liberdade” e, ao mesmo tempo, de “proibição à proibição”;
7) Nesse contexto, vali-me da associação entre a leitura bíblica e o jargão “é proibido proibir”, para evidenciar a falácia, no sentido técnico do termo, qual seja a contradição intrínseca da própria ideia, à luz do conceito cristão de “liberdade”. Assim, disse isto: “Se eu pudesse encontrar essa pessoa que redigiu essa letra de música, eu perguntaria: como assim, aceitaria comer veneno de rato ou então mastigar cianureto?”. A pergunta é dirigida ao interlocutor como questionamento, não como desejo. De fato, na arte da retórica e da apologética, diante de um aforisma apresentado, o interlocutor faz uma pergunta casuística (hipotética) para mostrar a inconsistência da tese contrária. Ou seja: a tese correta é “E PROIBIDO comer aquilo”; o pensamento contrário, isto é, “E PROIBIDO PROIBIR comer aquilo”, é inaceitável;
8) Assim consideradas as coisas, lamento a desonestidade que distorceu o que, de fato, eu disse;
9) Por fim, dirijo-me a quem desvirtuou os fatos. Perdoando do fundo do meu coração tal(is) pessoa(s), faço-o utilizando as palavras de uma bela música que V. Sa. compôs para o nosso Deus, o meu Deus, o seu Deus, o Deus de Dona Canô, sua falecida e saudosa mãe, devotíssima do Senhor do Bonfim até ao fim da vida. A música é Anus Dei = Cordeiro de Deus): “Perdoais o nosso erro. A nossa falta de amor. O funeral sem enterro da nossa miséria. Miserere nobis, Senhor! Miserere nobis, Senhor. Miserere nobis, Senhor”; 10) Finalmente, caro Caetano Veloso, peço-lhe a caridade de rezar comigo todos os dias por quem não afirma a verdade, suplicando ao meu e seu Deus o que você canta há tanto tempo: Miserere nobis, Senhor!
PARA A IMPRENSA
Autorizo e rogo a todos os veículos de Imprensa que deem ampla divulgação a esta NOTA, em homenagem ao bom jornalismo.
Brasília, DF, 4 de abril de 2019.
Dom José Francisco Falcão de Barros
Bispo Auxiliar do Ordinariado Militar do Brasil
E-mail: portaltodosegundo@hotmail.com
Telefone: 3420-1621