Enquanto a indústria criativa movimentou R$ 393,3 bilhões e representou 3,59% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2023, Alagoas permanece entre os estados com menor participação nesse setor, com apenas 0,9% da sua economia ligada à chamada economia criativa. O dado é da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), que lançou novo levantamento com base na RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) do Ministério do Trabalho e Emprego.
A diferença é gritante quando comparada a unidades da federação como São Paulo (5,3% do PIB), Rio de Janeiro (5,2%) e Distrito Federal (4,9%). Alagoas aparece ao lado de Rondônia, Acre, Maranhão e Tocantins, que formam o grupo de cinco estados brasileiros em que a indústria criativa representa menos de 1% da economia local.
O setor, que engloba áreas como publicidade, design, arquitetura, moda, tecnologia da informação, audiovisual, música, artes cênicas e cultura popular, vem demonstrando grande capacidade de geração de renda e emprego no país. Em 2023, mais de 1,26 milhão de pessoas trabalhavam na indústria criativa brasileira – um aumento de 6,1% em relação ao ano anterior, quase o dobro do crescimento do mercado de trabalho em geral (3,6%).
Ausência de política pública
A baixa representatividade de Alagoas reflete a ausência de políticas públicas estruturadas e investimentos consistentes em setores ligados à criatividade, à cultura e à inovação. Segundo especialistas, apesar do potencial histórico e cultural do estado, a falta de estímulo à profissionalização e à infraestrutura criativa dificulta a inserção dos trabalhadores locais nesse mercado em expansão.
Exemplo desse contraste é a trajetória do escritor e editor Cesar Bravo, de 47 anos, que começou a publicar seus livros de forma independente em 2011. Há cinco anos, ele abandonou a carreira de farmacêutico bioquímico para viver exclusivamente da escrita e da atuação no mercado editorial. “Sou muito grato por conseguir viver do que gosto. Eu trabalho em casa, e minha filha de 8 anos é minha fã, minha leitora. Só isso já pagaria todas as contas”, contou Bravo, que hoje tem seis livros publicados e colabora com uma grande editora nacional.
Histórias como a de Bravo ilustram o potencial de crescimento da indústria criativa, desde que existam políticas de incentivo à formação, financiamento e circulação de produtos culturais. A coordenadora da pesquisa da Firjan, Júlia Zardo, reforça: “Esses dados são até 2023. Ainda veremos crescimento maior com os efeitos da descentralização de recursos públicos, como com a Lei Paulo Gustavo”.
Caminhos para o futuro
Para que Alagoas possa acompanhar a tendência nacional, será necessário investir em formação técnica, acesso à tecnologia, fomento à economia cultural local e valorização dos trabalhadores criativos. O estado precisa sair da estatística de estagnação e aproveitar o momento em que o país busca consolidar a criatividade como motor de desenvolvimento econômico e social.
O cenário é promissor, mas exige ação. Afinal, enquanto o Brasil reconhece cada vez mais o valor do trabalho criativo, Alagoas ainda precisa dar os primeiros passos para transformar talento em oportunidade e cultura em economia.
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